Por falar em graça...
Levy Bastos
Os cristãos temos nos habituado com uma linguagem própria da fé. Desde muito cedo nos acostumamos com expressões próprias de nossa religiosidade. Isso não é mau em si, mas há sempre o risco de que, com o seu uso recorrente nos esqueçamos que elas podem perder seu sentido e relevância para aqueles que estão fora do ambiente religioso. As palavras acabam, sob o risco de esgotarem seu potencial comunicativo. Perdem sua força de significação. Nestes casos tais palavras precisam ser retraduzidas para uma linguagem que seja compreensível para o mundo moderno, se é que de fato, queremos partilhar de modo autêntico e pertinente, o Evangelho de Cristo.
A palavra graça é para mim o coração do Evangelho. Nela se resume tudo o que crêem os cristãos. Com ela podemos descrever quem é Deus e como Ele se relaciona conosco. Cristo é a graça de Deus que veio ao mundo. Graça é, por isso mesmo, uma outra palavra para amor, para a misericórdia e para o perdão.
Quando me ponho a refletir com mais vagar sobre como vivemos, na forma como nos relacionamos. Quando penso nos sofrimentos e injustiças sem conta que muitos tem de enfrentar quotidianamente, concluo que a graça de Deus é, mais do que nunca, uma palavra relevante e oportuna. Uma palavra que vale a pena ser proferida. Uma palavra carregada de sentido.
A graça é, entre outras coisas, a reafirmação do amor de Deus pelas pessoas, todas as pessoas, sem distinção. A graça é a lembrança, sempre permanente, de que os seres humanos têm valor pelo que são e não pelo que possuem. Ser vale mais do que ter, bem dizia o psicanalista marxista Erich Fromm.
A graça nos desperta para o fato de que precisamos criar todos os dias, e de modo sempre renovado, uma cultura de paz, de tolerância, de perdão e de reconciliação.
Há quem fale da graça como algo irresistível, eu prefiro pensa-la como a atitude amorosamente persistente de Deus em nosso favor. Sim, pois Ele nunca se cansa de querer o nosso bem, e isto Ele o faz sempre de modo irreversível, inexplicável, imerecido e incondicional.
A graça é, sim, uma permanente boa nova para todas as pessoas, ontem, hoje e sempre. Que venham, então, tempos de graça!